quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

1º CRÍTICA AO TEATRO FÚRIA E OS INSURRETOS FURIOSOS - EDUARDO FERREIRA


Muito bem, Insurretos. Chega deste ano. Só ano que vem agora. E como matéria derradeira deste ano quase finado em que o Teatro Fúria completou sua primeira década, publicamos aqui uma crítica do libertário Eduardo Ferreira, publicada no Overmundo.
Euforia, Eufuria, Fúria-Fúria-Fúria!!! Vida longa, motivada e tesuda a todos os Insurretos Furiosos Desgovernados e companheiros de luta!

"Com uma vontade obstinada de fazer teatro sob o sol do cerrado brasileiro, grupo está fazendo uma revolução nos palcos matogrossenses Quando me convidam para ir ao teatro assistir a uma peça sempre fico meio desconfiado e sempre me recordo de uma camiseta do pessoal do Casseta com a seguinte inscrição: Vá ao teatro, mas não me chame! Maldade pura, mas o teatro é uma arte a que raramente assisto, acho quase tudo muito chato. Mas quando vi o Teatro Fúria pela primeira vez fiquei absolutamente extasiado com o tipo de teatro que estavam realizando. Não imaginava que estivessem fazendo um trabalho tão maduro, competente, profissional mesmo, com bom texto, boa direção e principalmente atores locais sem nenhum ranço de amadorismo. É uma arte muito difícil, que requer muito trabalho e muita preparação de ator, muita técnica, coisa complicada nesses lados de cá. O teatro matogrossense parece agora se elevar para outras esferas, outros palcos. Arte de celebração e comunhão com divindades. Uma referência de qualidade teatral autoral que me recordo produzida em Mato Grosso foi a montagem de O capote, de Gogol, realizada pelo Grupo de Risco, liderado por Chico Amorim, nos idos anos 80. Teatro ousado, inventivo, experimental, com soluções inteligentíssimas que o Chico foi buscar nos gregos, nas ruas, nos quadrinhos, na cultura popular. Depois disso só consegui me extasiar com os 'furiosos' quando assisti à peça Nepal, de autoria própria e primeira montagem do grupo. Formado por, Giovanni Araújo, Bruna Menesello, Caio Matoso, Rodrigo Toledo e Péricles Anarcos, o Fúria, que em sua formação original tinha Eduardo Espíndola, nasceu há sete anos com a determinação de fazer do teatro um modo de vida, estabelecendo uma relação visceral, orgânica, definitiva. Giovanni era vendedor de medicamentos, Eduardo funcionário de um laboratório de análises, Péricles trabalhava com o pai, que o controlava pela disposição anárquica e Toledo, desempregado, também era infernizado pelos pais para que largasse mão do teatro e se dedicasse aos estudos. Inventava mil histórias para poder ensaiar, até o dia em que venceu seus medos e encarou a mãe decidido a tudo. Está até hoje na ativa. Furioso e vencedor. Interessante a postura do grupo onde todos fazem de tudo, como dizem: "É uma trupe multifacetada, multidisciplinar, com uma vontade obstinada de fazer teatro sob o sol do cerrado brasileiro". Dividem tarefas, cumplicidade e confiança. Todos são atores, diretores, autores, produtores, iluminadores e cenógrafos. Depois de Nepal, que abordava o apocalipse, com o encontro dos dois últimos sobreviventes da Terra condenados à morte que se sentem no dever de reinventar uma nova convenção social. Experimental, inventiva, crítica, a montagem revelava uma lucidez que inaugurava um novo modo de fazer teatro em Cuiabá. Cenário mínimo, texto certeiro, direção segura, bons atores, algo de novo surgia no cenário matogrossense. De lá para cá já foram sete peças montadas, mais de 700 apresentações em mais de 50 cidades de 20 estados brasileiros, participações destacadas nos festivais, de
Curitiba (2001), Londrina (2001 e 2004), Rio Cena Contemporânea (2004), projeto Palco Giratório do SESC Nacional (2003) e Caravana Funarte (2005). O Fúria atingiu, seguramente, uma maturidade estética singular e tem potencial para se consolidar como presença e referência do que há de melhor nas artes cênicas nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. Eles desenvolvem também alguns projetos de oficinas, acreditam que é possível formar cidadãos através do teatro, ou mesmo, formar técnicos e artistas para trabalharem com o teatro. Estão adaptando o espaço físico de uma casa bastante grande, onde trabalham hoje, para transformá-la em um Centro Cultural, com teatro de bolso, arena, salas para oficinas e uma biblioteca básica, com acervo direcionado para o teatro. O Fúria ampliou suas ações e produziu em 2006, o primeiro Festival Nacional de Teatro de Cuiabá, o evento aconteceu em julho. Invadiram ruas, espaços não convencionais, salas de teatro, criaram uma efervescência para agitar a cena local. A idéia é consolidar o Festival que foi um sucesso em seu primeiro ano de realização. Certos trabalhos nos fazem repensar as relações que travamos com a vida. É possível fazer teatro com qualidade estética e autoral em Cuiabá. Os caras estão mostrando isso com muita determinação e dignidade. Já posso ir ao teatro com a certeza de que, como disse o poeta: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena." "

1 - BREAD and PUPPET THEATRE - Série Trupes Anarquistas

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Bread and Puppet Theatre (Teatro de pão e marioneta)
Entre o chamado novo teatro americano, o Bread and Puppet Theatre é conhecido pelo carácter radical das suas técnicas, pela recusa do profissionalismo, assim como pela vontade de se inserirem na realidade quotidiana, tal como pela «pobreza» dos recursos técnicos que utiliza.Bem se pode dizer que o Bread and Puppet Theatre pratica um teatro total na medida em que utiliza e combina todos os recursos do espectáculo e das artes: actores, marionetas, máscaras, pantomina, récita, música, dança, pintura, escultura, jogos de luzes, etc,etc. tudo isso numa dramaturgia unitária.O Bread and Puppet Theatre foi fundado por Peter Schumann, escultor alemão que, de 1958 a 1960, dirigiu o grupo de Nova Dança de Munique. Instala-se, entretanto, nos Estados Unidos, e dá o seu primeiro espectáculo – uma «Dança dos Mortos» - na Judson Memorial Church de Nova Iorque, em 1961. Em seguida, monta um espectáculo ao ar livre sobre uma greve. A partir de então, e um pouco por toda a parte quer nos Estados Unidos quer na Europa, o Bread and Puppet Theatre dá espectáculos, em locais improvisados, e no decurso de manifestações.O nome do Bread and Pupet Theatre, bem como o cerimonial simbólico, com que iniciavam os seus espectáculos ( distribuição de pão aos espectadores da primeira fila) revestia um significado. «Tentamos persuadi-los», nas palavras de Peter Schumann, «de que o teatro é tão indispensável ao homem como o pão».O espectáculo, nunca realista, deve levar os espectadores a tomares consciência do problema. Mas o método não é o do Brecht. «é necessário impressioná-los, sem cair em detalhes, sem ter a preocupação de fazer compreender os diversos aspectos da questão, sem procurar saber qual será a sua reacção, cumprindo sempre uma missão de alerta e de comunhão».Os actores não eram profissionais. Eles próprios fabricam as suas máscaras e arranjam os seus acessórios e até os instrumentos de música com objectos encontrados nos caixotes de lixo.Utilizavam também marionetas gigantes e marionetas vivasEste tipo de teatro, parco de palavras, e repleto de gestos simbólicos, destina-se tanto a multidões em movimento como ao auditórios atentos.
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Mais informações em inglês:Description and Brief History of the Bread and Puppet TheatreIn 1962, one year after its founder moved to New York City from West Germany. Until 1971, Bread and Puppet resided in New York City, working in Coney Island and the East Village. In June 1970 part of Bread and Puppet moved to Plainfield, Vermont, as a theater-in-residence at Goddard College. Here the group held the first annual "Domestic Resurrection Circus," a two-day festival "celebrating the beauties and lamenting the sorrows of our existence in scores of mask, music and puppet performances".Bread and Puppet has given workshops in sculpture, mime, dance, story-making, puppet building and operation, music and instrument making at Goddard College (1971-1974) and in Glover, in the Northeast Kingdom of Vermont where the group has converted an old barn into a museum, displaying hundreds of masks and puppets. In 1974 Bread and Puppet moved to Glover where it has remained ever since.Since its beginnings, Bread and Puppet Theater has been a small, self-managed, non-commercial theater. Despite the lack of financial and material funding, Bread and Puppet continues to thrive, always committed to increasing people's awareness of pertinent social and political issues. Often depicted are the victims of injustice, plagued by war, hunger and social oppression. During the sixties, Bread and Puppet frequently participated in demonstrations against American involvement in Vietnam, using over-life size puppets and masked performers. Although Schumann expressly says that the shows are not political, the subjects of his plays are very thought-provoking, demanding that the audience question their moral responsibilities. Underlying all the performances, however, is a note of hope and optimism.Bread and Puppet derives from ancient folk traditions: medieval morality plays, Punch and Judy, Sicilian and Balinese puppetry, and Japanese Bunraku. Classical art and the bible have also influenced Schumann, as well as current events. Having studied art, sculpture and music in Germany, Schumann has fused these elements into the creation of a unique puppet theater. Puppetry is the essence of this theater, preferring action to dialogue; the puppets display life in simple, ritualistic terms rather than trying to explain it or teach about it. Peter Schumann believes that "puppetry and all the arts are for the Gods, are wild, are raw material, are bread and sourdough....are for life and death, births, weddings, exaltation and sorrow, not for professionals and specialists of culture."Believing that theater is a basic necessity like bread, Bread and Puppet has brought its theater out into the streets to those who may otherwise not go to the theater. Larger than life size puppets often on stilts, wear huge masks with expressive faces, singing, dancing and playing music. Participation in these plays varies from two to over one hundred actors, including children. Out in the city streets and the fields of Vermont and unimpeded by theater walls, the audience becomes more engaged in the performances and relates with the characters themselves.Bread and Puppet is recognized throughout the world and has won distinction at international theater festivals in Italy, Poland and Yugoslavia.
Consultar:
http://bailey.uvm.edu:6336/dynaweb/findingaids/bredpupt/@Generic__BookTextView/85;cs=default;ts=defaulthttp://www.pbpub.com/bread&puppet/bread.htmhttp://www.theaterofmemory.com/art/bread/bread.htmlhttp://www.gpdesigns.com/puppets/http://www.cbc.ca/ideas/features/bread_puppet/http://www.sagecraft.com/puppetry/papers/Schumann.html

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

1 - FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO ANARQUISTA DE MONTREAL - Série Eventos da Sociedade Alternativa Internacionalista

[Canadá] Festival Internacional de Teatro Anarquista de Montreal

Duas noites da máxima expressão da voz, corpo e pensamentos anarquistas!

Enquanto está em cartaz em Curitiba a peça Colônia Cecília, que conta à história de uma colônia anarquista em terras paranaenses no final do século XIX, lá no Canadá, terá novamente a segunda edição do "Festival Internacional de Teatro Anarquista de Montreal", entre os dias 28 e 29 de maio. Duas noites de peças e monólogos sobre idéias e histórias anarquistas, contemporâneas ou não.

Este festival bilíngüe apresentará nove espetáculos de diversos países: Canadá, Bélgica, Reino Unido e Estados Unidos, com a participação de mais de 50 atores e atrizes, e também um filme documentário sobre a trupe de teatro do "Bread and Puppet Theatre", de Vermont, de renome internacional.

Entre as peças estão "Just Sexual", de Anna Feigenbaum; "The Noxious and The Daemon Flower", de Raven e Laëmas, do grupo "A Floresta Negra", extratos de "Morte Acidental de Um Anarquista", de Dario Fo; "Cabaret Anarchiste Pour Eliseé Reclus", pelo Teatro de Balancelle; "On joue Le Coq Rouge", de Louise Michel; "Moi, Ulrike, je crie!" (Ulrike Meihof da Fração Exército Vermelho) pela companhia Teatro-Ação O Grande Asilo; "Iphigenia In Utopia", de Pietro Ferrua; "Reasons of State: A Memorial for Sacco & Vanzetti", de Eric Mühsam e "Ah! The Hopeful Pageantry of Bread & Puppet Theatre", um filme de 80 minutos e o "clown" americano Mick Holsbeke.

As duas noites compreenderão peças de forma, temas e estilos diversos, todas escritas por autores anarquistas, ou que propõe um conteúdo libertário.

Cada encenação apresentará posições anti-estatais, anti-capitalistas, anti-sexistas, anti-imperialistas e/ou anti-autoritárias.

O Festival de Teatro Anarquista faz parte da programação anual do "Festival da Anarquia" de Montreal (o maior evento anarquista do continente norte-americano, quiçá do mundo), e acontecerá na "Sala Rossa", nº 4848, Saint-Laurent, um espaço apropriado para exibições teatrais.

Os ingressos custarão 10$ para os assalariados, e 5$ para os estudantes e desempregados.

Toda renda obtida com a venda de ingressos servirá para cobrir os gastos do Festival, e o que sobrar será usado para a próxima edição do evento. Este é um acontecimento autogestionário, sem remuneração.

A extensa, moderna e dinâmica programação do "Festival da Anarquia" pode ser conferida no sítio a seguir, destacamos a Feira do Livro Anarquista e o Festival do Cinema Anarquista que aconteceram neste último final de semana, particularmente o filme “Jeff Luers”, sobre o preso eco-anarquista Jeff “Free” Luers: www.anarchistbookfair.ca

Tradução: Allyson Bruno

agência de notícias anarquistas-ana

Não achou no bolso moedas para o mendigo. Sentou-se com ele.

Microcontos - Affonso Guerrero

BUENO. ISSO QUE DIVULGUEI ACIMA FORAM ÁGUAS PASSADAS. PELO AMOR DE OS InurretosFuriososDesgovernados E OS NOSSOS AMIGOS VISITANTES SABEREM DO QUE SE TRATA. AS ÁGUAS QUE ESTÃO VINDO SÃO ESTAS AQUI Ó:


Anarquistas canadenses estão procurando peças de teatro para o 4º Festival Internacional de Teatro Anarquista de Montreal, que acontecerá entre 11 e 14 de maio de 2009, dentro de um dos maiores eventos libertários da América do Norte - O Festival da Anarquia.

O 4º Festival Internacional de Teatro Anarquista de Montreal está buscando peças de teatro em inglês ou em francês, com uma duração de 5 à 60 minutos, sobre os anarquistas, as idéias anarquistas, a história ou qualquer outro tema conexo ao anarquismo e as idéias libertárias. Estas peças deverão ser apresentadas entre 11 e 14 maio de 2009.

Organizada no âmbito do Festival de Anarquia, trata-se de um evento anual, único na América do Norte, que se realiza em Montreal e que precede O Salão do Livro Anarquista de Montreal, que se realiza de 16 a 17 de maio (o 10º aniversário do Salão será em maio de 2009).

O Festival Internacional de Teatro Anarquista irá receber como seus convidados: The Living Theatre (EUA), The Bread and Puppet Theatre (EUA), Théâtre de la Balancelle (França) de Monique Surel, e Nicolas Mourer, Théâtre Le Grand Asile (Bélgica), Norman Nawrocki, e várias outras trupes locais. Em maio de 2008, o Festival Internacional de Teatro Anarquista reuniu mais de 400 pessoas em sua sessão de abertura, no Teatro da Universidade de Concordia.

Nós selecionaremos as peças, textos ou monólogos, que podem ser criações inéditas ou já apresentadas em outros eventos, ou que foram escritas por poetas, escritores, homens e mulheres, do teatro anarquista, contemporâneos ou não.

Nós estamos procurando peças que sejam contra o Estado, as Forças Armadas, o Capitalismo, o Sexismo, a Homofobia, o Imperialismo e o Autoritarismo (a lista não é limitativa). Essas peças devem trazer em seus enredos e conteúdos problemáticas que tenham relações com a ampla gama de perspectivas de emancipação, e seus autores devem as assumir baseadas na anarquia, ou serem próximas as idéias libertárias.

Nós pedimos à todos os participantes potenciais que nos expliquem, brevemente, em que ou quais temas as peças propostas se inscrevem no conjunto do Festival Internacional de Teatro Anarquista, e de incluírem em suas propostas, um resumo ou uma amostra de sua peça, ou uma parte da encenação, uma curta biografia, um DVD ou um vídeoclip da peça, ou um link para uma página eletrônica, das críticas de vossos trabalhos anteriores e suas exigências técnicas.

Este é um evento gratuito, não-remunerado. Por outro lado o Festival Internacional de Teatro Anarquista assegura a promoção do evento, fornece uma sala apropriada e, com base em suas edições anteriores, um auditório. Toda a renda proveniente da venda de entradas servirá para cobrir as despesas do Festival Internacional de Teatro Anarquista e serão utilizadas para reeditar o evento em 2010.

Se estiver interessado, nos envie o SVP o mais rápido possível, ou, ao mais tardar, no dia 5 de janeiro de 2009.

Pela internet: anarchistefestival(arroba)yahoo.ca

Ou, pelo correio: Festival de Théâtre - a/s S. Laplage - 6797, rue de Normanville - Montreal, Québec ? H2S 2C2 - Canadá

Sítio: www.myspace.com/anarchisttheatre_montreal

Tradução > Juvei

1 - Teatro Anarquista e Cinema Burguês - Cultura no Brás no Início do Século XX: série Histórias da Resistência Libertária

Cultura no Brás no Início do Século XX:
Teatro Anarquista e Cinema Burguês


Gabriel Passetti
passetti@palmeirasonline.com
Depto. de História - USP



No processo imigratório para São Paulo, milhares de italianos vieram e um grande número se estabeleceu no bairro do Brás. Chegaram aqui persuadidos pela necessidade de mão de obra na nascente indústria paulistana e nas fazendas de café. Não trouxeram somente sua força de trabalho: junto a ela vieram sua cultura e ideologia. A imigração atingiu seu apogeu ainda na República Velha, período marcado pela indiferença social, repressão e uma economia monocultora voltada para o mercado exterior, além do autoritarismo da elite agrária, que utilizava seu poder institucionalizado para fazer o que bem entendia com o país, aproveitando a máquina estatal para seu benefício próprio.
Com o intuito de conservar-se no poder, essa elite agrária dificultou ao máximo o desenvolvimento da indústria, e deste modo reprimiu a formação de novas classes sociais que viessem a conflituar com ela pelo poder.

No entanto, mesmo com o empecilho à atividade industrial esta desenvolveu-se no país, principalmente nos seus dois principais núcleos urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro. No primeiro, a atividade concentrou-se no bairro do Brás, onde instalaram-se as poucas indústrias que contavam com o investimento de cafeicultores e as pequenas indústrias dos imigrantes italianos. Eles viram alguns poucos de seus integrantes conseguir fixar-se como industriais e crescerem economicamente, tendo em Matarazzo seu principal emblema. Esse processo de enriquecimento fez com que alguns trabalhadores voltassem a sua percepção e destinassem a sua força de trabalho para a acumulação de capital tentando seguir o exemplo dos compatriotas enriquecidos. A maioria destes imigrantes organizou-se em sindicatos e sociedades de classe para reivindicar melhorias nas condições de trabalho e de sobrevivência.


Parte da enorme quantidade de capital proporcionada aos fazendeiros pela produção de café foi investida em estradas de ferro e indústrias, tendo sido São Paulo o principal palco escolhido para isso. Ao chegarem fugidos da lavoura, os imigrantes viam que sua única possibilidade de sobrevivência estava nos bairros operários, tanto como trabalhadores da indústria quanto como comerciantes, artesãos ou vendedores. Isto, proporcionou um enorme crescimento do bairro do Brás, onde grande parte dos imigrantes, principalmente italianos, veio a acomodar-se.
Neste novo mundo do trabalho, o operário via-se dentro de uma sociedade que se tornava cada vez mais complexa, porém ainda extremamente arcaica, onde o proletariado imigrante vivia numa estrutura fabril parecida com a do início da Revolução Industrial em seus países de origem.

Vista do Brás em 1920, com destaque
à fábrica de Matarazzo

Diversas ideologias apareceram e duas principais conflituavam entre si no meio dos próprios italianos: a primeira delas, de exploração do trabalho submisso nas fábricas para a acumulação de capital e posterior subida na escala social, era encabeçada pela figura do italiano enriquecido Francesco Matarazzo; a outra, de luta contra o sistema capitalista burguês de repressão, via governo e Igreja, era encabeçada pelos anarquistas.

A situação de conflito ideológico levou cada lado a utilizar-se de um meio de comunicação em busca de adesão. Os capitalistas utilizaram-se do cinema europeu e americano de ostentação e os anarquistas do teatro libertário, dos bailes e das escolas alternativas como meio de formação intelectual do operariado para a contestação do sistema.

A fixação pela figura do Conde Matarazzo fez com que estes trabalhadores fechassem os olhos para a exploração a qual estavam submetidos e constatassem que nunca conseguiriam ser como seu ídolo. É neste momento que surge a força e a importância da organização trabalhista anarquista, empenhando-se em denunciar a verdadeira situação do proletariado. Para isso, utilizou-se de meios que agregassem os membros da classe e atraíssem a atenção de todos, desde a panfletagem até a formação de sindicatos, escolas alternativas, organizações de classe, centros de cultura, círculos de palestras, bailes, greves e principalmente a atividade cultural teatral.

O governo mostrava-se omisso quanto à educação da população, possibilitando a instalação de escolas libertárias nos bairros populares pelos anarquistas. Eram as chamadas Escolas Modernas e ensinavam tanto as matérias normais quanto a importância destes filhos de operários dentro do sistema, sensibilizando-os para a causa anarquista e libertária, indo contra qualquer meio de repressão, principalmente as escolas “emburrecedoras” oficiais e as da Igreja.

As escolas libertárias e os centros de cultura eram mantidos financeiramente com doações e as receitas de bailes e de peças teatrais, evidenciando a importância da realização destas atividades tanto na formação da população quanto para a continuidade do processo educacional.

Após grande repressão governamental em 1917, as concentrações voltaram-se principalmente para a atividade teatral. Seus primeiros registros datam de 1902. Estas peças representavam obras européias, no início somente em italiano e algumas em espanhol. A partir de 1914 iniciou-se um processo de tradução das peças, pois o proletariado não era mais somente constituído de italianos e espanhóis. Isso teve um forte impulso a partir do desencadeamento da Primeira Guerra, quando a produção cultural na Europa sofreu uma estagnação e assim começaram a surgir os primeiros textos anarquistas brasileiros.

Em todas as peças representadas o ponto de vista era o do operário, mostrando principalmente o cotidiano desta população: greve, delação, relação empregador-empregado e a condenação de um estado de apatia da classe com relação as desigualdades sociais. As encenações eram precárias, devido à falta de recursos, fazendo com que as mesmas peças, com os mesmos cenários e figurinos fossem representadas repetidamente; no entanto, isso ajudou a melhorar a qualidade do espetáculo e a formar uma consciência de classe. Convém salientar que a mensagem das representações era mais importante do que sua estética.

No início do século, devido à falta de escolas de teatro e de incentivos, não era grande o número de atores profissionais no Brasil, fazendo com que os poucos existentes fossem absorvidos pelo teatro oficial do centro, que também incluía uma programação nacional em rodízio com companhias estrangeiras. Deste modo, aos teatros de subúrbio não havia disponibilidade de atores profissionais, o que dificultava a encenação de mais obras libertárias.

Para suprir esta dificuldade, os centros de cultura, sindicatos e associações uniram suas forças para a formação de atores dentro dos próprios trabalhadores associados, constituindo assim os primeiros grupos amadores de teatro que sempre passavam a representar obras anarquistas européias.

Com o tempo, parte dos grupos manteve o amadorismo, uniformidade e especializou algumas famílias, sendo as mais famosas e atuantes as dos Valverde Dias e dos Cuberos. Foram surgindo também grupos profissionais, que não necessariamente encenavam peças libertárias, mas tinham no repertório peças que tratavam do tema de associações trabalhistas e exploração do proletariado. Todavia, o que mais encenavam eram peças anti-clericais.

O trabalhador do Brás reservava o período entre as 20 horas de sábado e as 16 horas de domingo como seu único período de lazer, e queria retirar o máximo de proveito desta situação. As peças anarquistas passaram a apresentar mais e mais atividades aliadas a elas, como conferências, peças infantis e bailes.

Os encontros anarquistas aconteciam principalmente nos salões dos centros de cultura e sindicatos e nos grandes teatros da região, o Teatro Colombo, o teatro da Sociedade de Beneficência Guglielmo Oberdan e nos salões da Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas.


O Teatro Colombo foi o principal do Brás, localizado no Largo da Concórdia. Antes de ser transformado em teatro nele funcionava o Mercado do Brás, construído em 1897, e pouco tempo depois convertido em centro das atividades culturais do bairro. Sua capacidade era para 1.968 pessoas, em diferentes andares e acomodações. Sempre quando aberto estava lotado. No decorrer do século, o Colombo foi transformando-se de teatro em cine-teatro, e em seu final em apenas cinema, quando foi devorado por um grande incêndio.
Teatro Colombo, no Largo da Concórdia

A Sociedade de Beneficência Guglielmo Oberdan localizada à Rua do Gasômetro, próxima do Teatro Colombo, foi um dos principais pontos de encontro no bairro por muito tempo, pois em seus salões realizavam-se os mais famosos bailes, com peças de teatro. A exemplo do Teatro Colombo, mais tarde foi transformada em cinema. O local ficou marcado na história do Brás por uma tragédia que lá ocorreu, quando houve um principio de incêndio com pânico generalizado que resultou na morte de 31 pessoas. Destas, 30 eram crianças. A tragédia revelou uma face da situação dos cinemas na época, que competiam pela maior lotação e não aplicavam recursos suficientes para a prevenção de acidentes.

Em 1891 pedreiros e carpinteiros uniram-se na forma de cooperativa para a formação de convênio médico para os familiares dos profissionais destes ramos. Alugaram um prédio e contrataram médicos e dentistas, fazendo surgir a Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas na Rua do Carmo, local importantíssimo para a representação artística na cidade de São Paulo.

Nos salões da AACL realizavam-se os maiores bailes e as principais peças anarquistas do Brás, sendo este sempre um grande local para convenções políticas, o que acabou sendo desarticulado somente a partir da ditadura varguista do Estado Novo.

A exploração dos trabalhadores e falta de assistência por parte do governo da República Velha fez abrir cada vez mais um vão entre a produção artística e cultural de cada lado do Rio Tamanduateí, que se transformou literalmente num divisor de culturas.

A imprensa burguesa, com seus jornais e corporações informativas, não noticiava as atividades teatrais anarquistas, criando um boicote a esta produção, obstaculizando a divulgação de organizações do proletariado em seus meios de comunicação.

Combatendo a falta de recursos governamentais, os centros de cultura continuaram a educar e ensinar os trabalhadores, não somente com peças anarquistas ou material político mas também com obras de ficção, que correspondiam a um terço de toda a importação e produção editorial destes centros. Pretendia-se, com a distribuição de livros entre os trabalhadores, conscientizá-los em relação à exploração em que viviam.

Mesmo com todo este processo de conscientização da população, houve crescimento das salas de cinema e a transformação de teatros em salas de exibição da nova arte, o cinema. Isso ocorreu devido à repressão iniciada nos anos 20 (principalmente no governo de Arthur Bernardes) com a instalação de processos para deportação e exílio de anarquistas. Com o enfraquecimento do movimento anarquista, os antigos teatros deixavam de ser palco para peças libertárias, passando a exibir filmes burgueses tanto europeus quanto americanos. Tal processo reduziu mais ainda a força dos anarquistas, que não conseguiram fazer frente a ele. Acabaram por perder com o tempo os grandes palcos do Teatro Colombo e do Oberdan para o cinema, que veio no início a ocupar os espaços vazios entre as temporadas de grupos teatrais e que passou a ocupar todo o tempo destes espaços.

Portanto, notamos que o movimento artístico anarquista conseguiu manter sua unidade até a repressão oficial atingi-lo frontalmente a partir dos anos 20 e a invasão do cinema. Este novo modo de arte e de representação do mundo, extremamente caro para ser produzido e barato para ser assistido, refletia para a população um ideal de mundo burguês diferente dos ideais pregados nas peças de teatro. Os anarquistas foram traídos pela falta de recursos próprios para a continuidade da educação dos trabalhadores, num momento de repressão oficial e de discriminação pelos comunistas, perdendo seus espectadores para algo se pretendia mais bonito, interessante e relaxante: o cinema. Os teatros e bailes organizados pelos centros de cultura deixaram de ser o único lazer dos trabalhadores, passando a competir e muitas vezes conviver com algo mais novo e tentador.

A mobilização social por parte dos anarquistas importunou a elite política, que mesmo com a repressão às escolas libertárias e às festas não conseguia acabar de vez com o movimento.

A situação mudou drasticamente desde Arthur Bernardes até a chamada Revolução de 30, quando Getúlio Vargas assumiu o governo. Desde a posse, seu governo adotou medidas extremamente populistas. A primeira delas foi um pacote de políticas trabalhistas que era exatamente tudo o que os operários reivindicaram por trinta anos, adicionado de alguns outros pontos.


Os pontos adicionais foram o tiro de queda para o movimento comunista, que estava começando após a perseguição aos anarquistas nos anos 20. O principal deles dizia que os sindicatos estariam vinculados ao Estado e dessa forma permitia um grande controle estatal sobre estas instituições, retirando grande parte de seu poder.
Getúlio conseguiu o apoio da maioria da população, pois com suas medidas deu melhores condições de vida e de trabalho para as classes mais baixas que perderam as lideranças anarquistas para o exílio e as prisões. Podemos perceber que o pacote de medidas getulistas era exatamente o que os patrões desejavam para acalmar e animar os trabalhadores que já eram brasileiros, e não mais imigrantes. Estes deixavam de reivindicar melhorias, paravam de fazer greves e ainda trabalhavam contentes, produzindo mais para o patrão. Era exatamente o que a elite precisava para ter os operários nas suas mãos, e Getúlio conseguiu isso.

Getúlio Vargas ao chegar ao Rio de Janeiro
depois da Revolução de 1930

Os anarquistas que restavam logo perceberam o real interesse deste pacote, mas não conseguiam mais o apoio dos trabalhadores, o que dificultava seu trabalho. Mesmo assim continuaram suas peças de teatro, gradativamente perdendo mais público para os filmes americanos, que representavam a sociedade de consumo e um hipotético sonho dos trabalhadores. Sem o devido apoio, o movimento foi perdendo sua força, até ser novamente golpeado em 1937, quando instaurou-se o Estado Novo.

Com um discurso que se dizia salvador da família, tradição e propriedades dos brasileiros, Getúlio instaurou alguns órgãos repressores que foram fundamentais para a destruição do movimento anarquista no Brás e no Brasil.

Com o Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP - , Getúlio controlava de perto a produção cultural do país, impedindo assim a realização de peças teatrais e conferências anarquistas e de teor socialista e anti-capitalista no Brasil.

Impedindo a realização das peças anarquistas, restava ainda para os centros de cultura e ativistas em geral a memória do que havia sido produzido e suas bibliotecas. Foi ai que o governo do Estado Novo atacou para tentar acabar com qualquer vestígio de memória sobre a educação e organização do proletariado no início do século.

Dando amplos poderes à polícia política e à polícia secreta, o governo fez uma limpeza de tudo o que lembrasse ou simplesmente mencionasse a organização operária anarquista no começo do século. Assim, invasões aos centros de cultura e a residências de anarquistas tornaram-se comuns, já que o governo tinha o intuito de prender os antigos organizadores da oposição e queimar as bibliotecas anarquistas. É por isso que até hoje há pouquíssimo material escrito sobre a produção artística nos bairros operários no período de 1900 a 1930.

Devido à “limpeza” produzida pelo Estado Novo, e a partir da educação oficial, omitiu-se da história a organização sindical e anarquista e sua imensa produção cultural no início do nosso século. É por isso que até hoje persiste o pensamento de que neste período não se produzia cultura fora dos centros burgueses; este é o motivo de só termos registros das atividades culturais elitistas, como as do Teatro Municipal de São Paulo e da Semana de Arte Moderna de 1922, por exemplo.

Atualmente, o operariado não apresenta mais a organização que uma vez já teve, que já foi uma grande resistência no passado, gerando acontecimentos como a grande Greve Geral de 1917. Isto foi obra dos governos repressores, o democrático de Arthur Bernardes e o ditatorial e populista de Getúlio Vargas, principalmente no Estado Novo, período que se prolongou de 1937 a 1945.

Um dos fatores utilizados pelo governo varguista para adestrar o operariado foi o cinema norte-americano e suas representações dos sonhos de consumo. A partir dos anos 40, o Brás tornou-se o segundo centro de salas de exibição desta arte, perdendo apenas para a Cinelândia, no centro da cidade.

Ir ao cinema era a principal atividade social da população, que via nisso algo extremamente “chique”. Isso se reflete nos grandes sucessos de público, com a construção no Brás de enormes cinemas, destacando-se o Oberdan, Piratininga, Babylonia, Universo e Roxy, com o cine-teatro Colombo acompanhando o movimento.

Estas salas representavam, em 1945 um terço dos gigantes de São Paulo, cada um com enorme capacidade de público. No Piratininga cabiam 1.034, no Universo eram 998 e no Roxy 751 pessoas. Juntamente a isso, criava-se um novo modo de vida necessário para freqüentar estas salas, onde até os bilheteiros não podiam sentar-se para trabalhar e só eram aceitas pessoas vestindo trajes sóbrios.

Gradativamente observa-se a forte presença da sociedade americana, com sua ideologia inserindo-se no interior da base trabalhadora brasileira, substituindo os ideais socialistas por ideais da sociedade de consumo.

Porém, esta situação logo se modificou, tornando-se insustentável tanto devido às crises no cinema Hollywoodiano quanto à mobilidade da população, que se transferiu do Brás para outros bairros, deixando o espaço vazio para as ondas migratórias nordestinas que chegaram com a promessa de desenvolvimento industrial do governo Juscelino Kubistschek. Esta população que não havia recebido a educação e a cultura dos italianos e não tinha dinheiro para freqüentar os cinemas deixou os gigantes do Brás vazios, levando-os posteriormente à falência.

Portanto, podemos afirmar que Getúlio Vargas concretizou o que se vinha tentando desde o início da República e a conseqüente industrialização brasileira. Seu governo teve a habilidade de transformar o operariado em massa de fácil manobra, ignorante e desinformada tanto sobre o presente quanto sobre seu passado organizado e ativo.

Este processo ocorreu a partir de 1930 quando, após a Revolução, Vargas assumiu a presidência e empenhou-se em aniquilar a organização operária. Para isso, foram utilizados vários meios, sendo eles a degradação de monumentos à cultura antiga, encerramento das atividades de sindicatos e centros de cultura, destruição de arquivos históricos sobre o tema e degradação do bairro do Brás de um modo geral, para impedir a reestruturação da antiga organização.

Dentro destes pontos notamos como se inserem o incêndio do Teatro Colombo durante a Ditadura Militar, abandono de vários pequenos teatros, cinemas e centros de cultura, transformação de cinemas em estacionamentos e igrejas evangélicas, queima de bibliotecas públicas e particulares sobre a organização anarquista e a transformação do bairro do Brás em local de mera passagem, onde ninguém se fixa, apenas passa, exatamente o que ocorreu com os italianos, nordestinos e atualmente com os coreanos.

A produção cultural apresenta dois principais objetivos: o entretenimento e a formação político-intelectual da platéia. Até a Revolução de 30, a cultura produzida no Brás estava destinada a formar indivíduos contestadores dentro da camada baixa da população, ou seja, as organizações anarquistas entretinham e formavam uma ideologia própria para a população.

Esta organização operária não agradou a elite, que estava vendo sua produtividade cair e a instabilidade social. O método encontrado para interromper isso, foi a introdução via ditadura de uma política populista altamente repressora e controladora, que passava um estado de felicidade e tranqüilidade para o operariado, excluindo a problemática social da população.

Deste modo, houve a destruição da memória da organização operária após a chegada da política varguista. Nunca mais esta voltou a ser o que foi, tornando-se atualmente praticamente sindicalista, sem a intenção de ensinar e trazer a cultura para a camada mais baixa da população, esperando que o governo o faça, e não tomando atitudes próprias para a criação de escolas como os anarquistas fizeram no início do século com as Escolas Modernas.

Notamos e concluímos deste trabalho que a organização operária anarquista do início do século sofreu incrível repressão pois a elite não estava interessada em ver a base da população levantando-se contra o sistema, inspirando-se nos ideais anarquistas ou da Revolução Russa que havia ocorrido a pouco.

Os governos esforçaram-se ao máximo para substituir os meios de lazer do operariado. Deste modo, saíram de circulação os centros de cultura libertária. Primeiramente entrou em seu lugar o cinema norte-americano e o rádio, e logo estes deram lugar a algo mais moderno, barato e de fácil acesso a todos: os programas de auditório da televisão.

(http://www.klepsidra.net/teatroanarquista.html
a fonte deste coletado pelos insurretos)


Indicações Bibliográficas


ALVIM, Zuleika : Brava gente: os italianos em São Paulo, 1870 - 1920 . Brasiliense, São Paulo, 1986

AMARAL, Antonio Barreto do: História dos velhos teatros de São Paulo: da Casa da Ópera à inauguração do Teatro Municipal . Governo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1979

AMERICANO, Jorge: São Paulo naquele tempo: 1895-1915.Melhoramentos, São Paulo, 1962

__________: São Paulo naquele tempo: 1915-1935 . Melhoramentos, São Paulo, 1962

BORGES, Paulo E. B.: Jaime Cubero e o movimento anarquista em São Paulo: 1945 - 1954 . Mestrado em Ciências Sociais, PUC-SP, 1996.

CARELLI, Mario: Carcamanos e comendadores: os italianos de São Paulo: da realidade à ficção (1919 - 1930) . Ática, São Paulo, 1985

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OLIVEIRA, Maria Coleta F. A. de & PIRES, Maria Conceição S. : A imigração italiana para o Brasil e as cidades . Núcleo de Estudos da População, Unicamp, Campinas, 1992

PEDRO, Antônio: EUA: Crise do capitalismo in História Moderna e Contemporânea . 1ª Edição, Moderna, São Paulo, 1985

REALE, Ebe: Brás, Pinheiros, Jardins: três bairros, três mundos . EDUSP, São Paulo, 1982

RIBEIRO, Suzana Barretto: Italianos do Brás: imagens e memórias 1910 - 1930 . Brasiliense, São Paulo, 1994

SIMÕES, Inimá: Salas de cinema em São Paulo . Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, 1990

TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes: O bairro do Brás . Coleção História dos Bairros de São Paulo, Prefeitura Municipal - Secretaria de Educação e Cultura - Departamento de Cultura

TRENTO, Angelo: Cultura, instrução e teatro operário in Do outro lado do Atlântico . Nobel, São Paulo, 1989

VARGAS, Maria Thereza: Teatro operário na cidade de São Paulo . Prefeitura do Município de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura - Departamento de Informação e Documentação Artísticas - Centro de Documentação e Informação Sobre Arte Brasileira Contemporânea, São Paulo, 1980

Casa das Retortas Brás - Espaço e uso . Cadernos 2, Prefeitura Municipal de São Paulo, São Paulo, 1980

Siamo Tutti Oriundi . Yolat Indústria e Comércio de Laticínios Ltda (Parmalat do Brasil), São Paulo, 1997

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

OS FURIOSOS INSURRETOS DESGOVERNADOS e O MALDITO VERBO PRATICADO- 4º MANIFESTO FURIOSO


Eu insurjo
tu insurges
ela insurge
nós insurgimos

Mas por que praticamos o verbo? Quando as motivações que nos levaram a fazer teatro se aprimoram junto com a nossa arte, mas as circunstâncias que envolvem nossas vidas e a nossa arte aprimorada, não se aprimoram, e por intermédio de chantagens tentam nos forçar a não exercermos o nosso aprimoramento, colocamos perante nós, em nossos caminhos uma bifurcação.
O de lá é claro, asfaltado e fácil por causa das placas de informação /indicação/sinalização. Este caminho bem sinalizado é largo o bastante para caber dentro dele mais 2 trilhas. Uma sinalizada como Direita e a segunda trilha sinalizada como Esquerda. Já o outro mais parece um buraco pois é estreito e escuro, barrento e difícil, pois é uma trilha na mata. Terá armadilhas? Não é impossível. No claro caminho de lá você terá companhia. O outro caminho é quase solitário. Somente nós poucos- gotas de multidão salpicados no escuro, ruá, ruá...
Talvez seja boa idéia, caso opte pelo outro caminho solitário, de vez em quando dizer firme e concentrado, como quando se tenta contato com os deuses para se orar:”Antes só do que mal acompanhado”. Mas veja bem! Dizer firme como oração e não ficar raciocinando no que diz. No caminho escuro da verdade descobrirá que só porque foram pela outra trilha não quer dizer que são más companhias. E que porque você está neste outro, não necessariamente a boa companhia seja você. Esta oração do "antes só do que mal acompanhado" é uma pequena alienação. Uma droga pra te dar forças e continuar seu caminho, tateando de quatro no barro escuro que é o chão desse caminho a que chamam de buraco. Buraco que é capaz de nos mostrar que muitos que percorrem o caminho de lá, se ganhassem 1000.000 de dinheiros, dariam meia volta por onde vieram esse tempo todo e se enfurnariam de 4 no escuro neste nosso outro, recomeçando do ponto 0 a sua caminhada. No caminho sistemático, tenho quase certeza, somente os alienados e mal intencionados têm a capacidade de ter a convicção contente. Tenho quase certeza. Mas a terei toda se continuo engatinhando aqui neste escuro sobre este barro. Mas por enquanto tenho quase certeza de que a maioria que se encontra lá é por sobrevivência.
Mas o que raios buscamos tão teimosos neste caminho tosco? Por incrível que pareça, nada. Pelo menos mais nada, porque no caminho escuro o tesouro está no começo e não no final da trilha: A liberdade total de instruções de o que devemos ser, de como devemos ser, de como devemos pensar, do que devemos desejar, de que expectativas devemos ter para fazermos nossa arte, do motivo que nós devemos ter para fazer arte, de como reagir... regras quase sempre desobedecidas quando se tem quase a certeza de que se sairá impune. E sempre desobedecidas quando a certeza da impunidade é total. Daí escapam da punição e da acusação perante a opinião pública mas não escapam de si mesmos. Sim na estrada de lá desde pequenos os caminhantes são domados a desenvolver o que para eles é sua principal virtude: O cultivo do sentimento de remorso. O poder de auto punir-se. É a culpa cristã, judia, mulçumana ou qualquer outra balela que valha o mesmo e que também cultive o medo,a culpa e o sofrimento. A culpa é uma regra. Regra inscrita em alguma das milhares de placas tão típicas quanto abundantes na clara e fácil estrada de lá, após a bifurcação.
E aqui estamos engatinhando no escuro e solitários. Somente nós-poucos a nos fazer companhia nesta estrada quase deserta mas nada silenciosa, pois é tanto o barulho na estrada vizinha, e tantos os gritos dentro de nossas cabeças a se misturar com os gritos que nossos corpos emitem e se fundem com os gritos das cabeças e dos corpos gritantes dos outros nós-poucos... São lúcidos gritos de desejo e fome fundidos. Ouvidos de forma leviana e omissa pode ser o próprio ruído do Caos!

aldjeufnmrnjfuekd,dnmgjhui58mfjrufjeiudfjejwiosuijhçaiengiisdjks´piojekerlka´podifklmeqipjdf´pajfqçkwejfápsidufvalçkt~pwduf´pwjdfq~lwekjf´WDUFldjaliohdtpoaiwjdfpoqjnefljn´qa0uzx´cpbuzc´pvuqwlkjtqlwkejrta´spfvuis´pcvuqlçkewjrt~qlkwejrápsduvaspoivuqlwekjrqçlskjfgpçsajgçpajoiwfgpaiwojfówijef´pwjief´pqwjefqwjoekfgaleiohgqpowjhfgwdijf´qofjqówijfpwoejhfqówiqówijf´jqejpfqówejfpqowejhf´q0wv0asd9uva´0owdufvpo2i34j5ço12lj5-012789345

É que os ouvidos omissos foram levianos. Os ruídos organizados não passam de:

“Puts, e como vais ser isso deste espetáculo cortejo de rua/sem máscaras e sim realístico/em carácter de processo?”
“Caray, la plata de la locación!!!
“Como vamos à Curita? E como ficaremos lá?”
"Qualé a fome? Que fome é essa, opá!"
“Esse buraco dá uma peça!”
“Essa peça já há. Na verdade é um conto do Kafka!”
“não seria melhor eu voltar daqui para a estrada de lá?”

E daí quando os ouvidos levianos e omissos escutam assim, tudo organizado é capaz de a boca de seus ouvidos ainda perguntarem desinteressados:

“É... Não é melhor voltarem daí e retomar a clara estrada de lá? Por quê? Por que raios praticam o verbo???”

Porque recusamos e combatemos em nossas cabeças e em nossos corpos a tal mentira do “navegar é preciso - viver não é preciso”.
Combatemos gritando, com nossos-poucos-corpos-furiosos, o vigor da nossa verdade: VIVER É PRECISO!
E pra viver e se sentir vivendo, INSURGIR É PRECISO!!!
Por isso somos Insurretos, Furiosos, Inflamáveis e Desgovernados. Por isso praticamos o verbo.

Insurgir é preciso- conjugar não é preciso.

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domingo, 28 de dezembro de 2008

2 - A SOMA - UMA TERAPIA ANARQUISTA- Série Coletivos Libertários

A Soma - uma terapia anarquista
Somaterapia ou SOMA é uma terapia corporal e em grupo criada no Brasil pelo escritor e terapeuta Roberto Freire. Está baseada na teoria de Wilhelm Reich, discípulo dissidente de Freud e no Anarquismo. A Soma entende o conflito neurótico - que gera conflitos e depedências - a partir das relações de poder presentes na sociedade. Assim, o anarquismo com ética filosófica procura permear a metodologia da Soma, permitindo a identificação do autoritarismo nas relações inter-pessoais. Além da teoria reichiana, a Soma também adota o aqui-e-agora da Gestalt-terapia e as descobertas sobre a pragmática da comunicação humana presente nos estudos da Antipsiquiatria, especialmente o conceito de Duplo-Vínculo e sua implicação nas relações afetivas.
Foi no início da década de 1990 que introduzimos definitivamente a capoeira angola na prática da Somaterapia. Buscávamos um trabalho corporal que pudesse ser feito pelos membros dos grupos ao longo do processo terapêutico, em paralelo às sessões de terapia e que funcionasse como um exercício bioenergético complementar aos exercícios de Soma. Optamos por utilizar a capoeira, que nos pareceu ser a mais completa mobilidade corporal, pois além de uma eficiente mobilização energética que ela produzia, trazia também o aspecto da luta embutida em sua prática, o que nos possibilita perceber como se dá do ponto de vista corporal, os enfrentamentos que seus praticantes demonstram ter e as conseqüentes relações com sua vida emocional.
O processo terapêutico da Soma dura em torno de um ano e são realizadas quatro sessões de terapia por mês, compostas de exercícios corporais e dinâmicas de grupo autogestionárias, buscando identificar os mecanismos de poder presentes nas relações sociais travadas entre os membros do grupo e sua relação no cotidiano das pessoas.
Seguindo esta perspectiva, para a Soma, as relações humanas atravessadas por malhas e conflitos políticos que estendem-se pelas várias esferas da sociedade, são capazes de produzir sérias implicações à subjetividade das pessoas. Uma destas implicações reside notadamente nos efeitos emocionais e corporais que elas tendem a causar. A partir da perspectiva do ex-psicanalista Wilhelm Reich, corpo e emoção estão intimamente relacionados, não podendo ser pensados separadamente. O corpo cronifica e materializa o autoritarismo que recebemos e praticamos. Reich mostrou a neurose como fenômeno que atinge indivíduo e sociedade e afirmou que seu locus não é a mente, mas todo o corpo (incluindo a mente) e o conseqüente desequilíbrio de sua energia vital.
A Somaterapia propõe-se a refletir sobre a ética em vigor, que entende o outro dentro de uma ótica instrumental de uso e apropriação. Tais questões, que poderíamos pensar a partir de uma observação filosófica, também extrapolam para limiares políticos e ideológicos das práticas de convivência humana. Enfim, a Soma se coloca como uma terapia libertária, onde o comportamento humano é estudado a partir da forma como as pessoas vivem suas relações sociais.
Atualmente, a Soma é praticada no Brasil e na Europa pelo Coletivo Anarquista Brancaleone, que reúne os somaterapeutas em atividade e em formação, sob a supervisão de Roberto Freire. No Brasil, há grupos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre. Na Europa, são desenvolvidos grupos em Londres, Lisboa, Barcelona e Madrid.
Índice

Breve História da Soma
O nascimento da Soma se deu, sobretudo, no período do regime político instaurado no Brasil em 1964. A juventude militante que lutava contra a ditadura não dispunha de um método terapêutico em que pudesse confiar, politicamente, no atendimento dos desequilíbrios emocionais e psicológicos provocados em suas vidas pela rejeição e repressão autoritárias das famílias burguesas, ligadas à repressão dos militares e políticos fascistas.
Durante muitos anos, depois de 68, Freire fez atendimento clandestino aos militantes clandestinos e foi nesses momentos que a Soma descobriu e confirmou na prática seus fundamentos teóricos e políticos, bem como encontrou a força motivadora para uma ação verdadeiramente revolucionária. Mais tarde, ele pode trabalhar legalmente e transformá-la também numa fonte de finanças para a manutenção das famílias de militantes clandestinos ou vitimadas por fuga, prisão ou morte.
Foi fundamental o encontro e a convivência de Freire e da Soma recém-nascida com os criadores e os freqüentadores do Centro de Estudos Macunaíma, em São Paulo. Esse Centro, no tempo em que funcionava na casa de Mário de Andrade, na rua Lopes Chaves, Barra Funda (hoje Museu Mário de Andrade), durante a década de 70, era dirigido por Myriam Muniz e por Sylvio Zilber. Recebia inspiração e orientação do pintor, cenógrafo e arquiteto Flávio Império. Roberto Freire juntou-se a eles antes mesmo de morarem juntos e a trabalhar, criando ali quase toda a metodologia da Soma.

Coletivo Anarquista Brancaleone
Trata-se de um Coletivo Libertário criado em 1999, formado pelos somaterapeutas em atividade e em formação. Sua principal função é a de desenvolver e praticar a Somaterapia, privilegiando o trabalho em autogestão e a ética libertária. Em todos esses anos de trabalho autogestivo, o Brancaleone sempre procurou reafirmar sua postura radicalmente anarquista, no que atualmente definimos como o Anarquismo Somático, onde o prazer se torna referencial ético na construção da autonomia do indivíduo. As atividades do Coletivo Brancaleone além dos grupos de Soma, se estendem também para a publicação de livros, cursos, palestras entre outros ações. Em 2006, iniciamos um curso de Extensão Universitária "Introdução à Somaterapia" na UERJ, no Rio de Janeiro, levando a Soma para as salas de aula desta instituição. A entrada na Universidade, à convite do Departamento de Psiquiatria da UERJ, é um importante reconhecimento acadêmico da Soma e sua história na Psicologia brasileira.
Atualmente é composto pelos somaterapeutas João da Mata, Jorge Goia, Vera Schroeder e Marcelo Leal e pelo assistente em formação Stéfanis Caiaffo. Durantes os últimos vinte anos de atividade, os somaterapeutas estiveram trabalhando e desenvolvendo a Soma sob a supervisão de Roberto Freire. Em maio de 2008, Freire faleceu e o Coletivo Brancaleone segue desenvolvendo a Soma e o legado de seu criador.
O Coletivo Brancaleone desenvolve grupos de SOMA no Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre. Também em Lisboa, Barcelona, Madrid e Londres, com os somaterapeutas João da Mata e Jorge Goia.

vídeos sobre a Soma no Youtube
http://www.youtube.com/watch?v=CMMVmyKzoGc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=0aAbZM88MUQ

Referências
- SOMA, Vol 1 - A alma é o Corpo. São Paulo: Francis, FREIRE, Roberto.
- SOMA, Vol 2 - A Arma é o Corpo. São Paulo: Francis, FREIRE, Roberto.
- SOMA, Vol 3 - Corpo a Corpo. São Paulo: Francis, FREIRE, Roberto; MATA, João da.
- O Tesão pela vida. 1. ed. São Paulo: Francis, 2006 FREIRE, Roberto; MATA, João da; GOIA, J. ; SCHROEDER, Vera.
- Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu! São Paulo: Francis, FREIRE, Roberto.
- A Liberdade do Corpo – Soma, Capoeira Angola e Anarquismo. São Paulo: Imaginário. MATA João da.

PEQUENA INTRODUÇÃO ÀS IDÉIAS LIBERTÁRIAS, POR TEOTONIO SIMÕES

O QUE É O ANARQUISMO
Anarquia não é confusão. Anarquista não é bagunceiro. Anarquia, do grego: an (=sem) e arché (=poder). Anarquismo: movimento que luta por uma sociedade em que ninguém tenha poder sobre ninguém.
Também podem ser chamados de ácratas, defensores da Acracia, do grego: an (=sem) e kratos (=governo). Os ácratas, ou anarquistas, querem uma sociedade em que ninguém governe ninguém.
Pela ênfase que dão à liberdade e à negação de qualquer autoridade, são também conhecidos como libertários.

REBELIÃO RADICAL
O anarquismo é a revolta radical contra a sociedade autoritária que está aí, com seus preceitos, preconceitos e negação da liberdade individual. Para o anarquismo, o único limite à liberdade de cada um deveria ser a liberdade do outro.
O anarquismo defende a democracia direta, exercida por indivíduos que se organizam voluntariamente em federações que se confederam. Uma sociedade que se organizaria de baixo para cima, sem nenhuma autoridade..
Os anarquistas não acreditam nem em democracia representativa, nem em parlamentos, nem em eleições para eleger “representantes”. Para eles, legisladores e governantes só têm um interesse: manter o poder para eles mesmos.

AÇÃO DIRETA
Defendem ações diretas como greves, boicotes, resistência pacífica, desobediência civil, desrespeito a leis e regulamentos impostos. Ignorar e desobedecer o Poder (não conquistá-lo) é para eles a forma de destruí-lo.
A maioria dos anarquistas sempre condenou a violência. Mas como alguns optaram por ela (e isso mereceu destaque por parte de seus opositores) há quem generalize, identificando anarquismo com violência.
A opção pela ação direta e a negação da sociedade burguesa levou outros libertários a porem em prática suas idéias, vivendo de acordo com seus princípios, em comunidades alternativas ou individualmente.

ANTICAPITALISMO
Para o anarquismo, a igualdade é um meio para a liberdade. Não tem sentido igualdade sem liberdade. Mas a liberdade de fato só seria possível com a igualdade de fato.
Anarquistas foram socialistas, comunistas, coletivistas, mutualistas, cooperativistas. Mas sempre negadores do capitalismo e da sociedade burguesa e a favor da gestão dos meios de produção pelos próprios trabalhadores.
Para alguns (Tólstoi, Thoureau) a simplicidade e a negação do supérfluo (o que não lhe faz falta) seria o caminho para a igualdade. Para outros (Bakunin, Proudhon) isso só seria possível com o fim da propriedade privada.

SOCIALISMO
Socialistas, marxistas e anarquistas estiveram juntos na I Internacional. Os anarquistas, que denunciaram Marx e seguidores como autoritários, por pregarem a tomada do poder e não seu fim, foram expulsos em 1872.
Os anarquistas chegaram a apoiar a revolução russa de 1917. Mas logo passaram a denunciá-la como anti-libertária, pela perseguição aos anarquistas e pelo fortalecimento do Estado.
A existência de um Estado que se dizia operário debilitou o movimento anarquista. Alguns aderiram à Internacional de Lenin (III Internacional). Entre eles, os fundadores do PCB (Partido Comunista do Brasil). Outros continuaram denunciando o regime soviético.

INDIVIDUALISMO
Para o anarquismo, indivíduos livres são a realidade primeira e final da sociedade. São eles que, superando os condicionamentos, com sua ação e sua vontade, poderiam fazer a revolução social.
O anarquismo não aceita uma natureza humana, boa ou má. Afirma que o homem pode se aperfeiçoar, sendo cada vez mais livre, ajudando outros a se libertarem, sendo solidários.
Nem Servo, Nem Senhor! Os anarquistas não aceitam que ninguém tenha poder sobre eles. Nem querem ter poder sobre ninguém. Por isso enfatizam a solidariedade, não a competição.

ORGANIZAÇÃO
Ninguém deve ser impedido de se organizar. Mas ninguém deve ser obrigado a se organizar. O anarquismo, ao colocar a liberdade individual em primeiro plano, sempre privilegiou a organização voluntária.
Multiplicade de organizações. Liberdade irrestrita de auto-organização dos invidivíduos. Nenhuma organização definitiva. O respeito irrestrito às minorias. Estas são algumas das consequências da liberdade organizacional defendida pelo movimento anarquista.
O princípio federativo, com unidades menores que se federam para gerar unidades maiores, trabalhando voluntariamente juntas, é uma das formas de organização preferidas pelos libertários.Organizações em rede, não piramidais.

INTERNACIONALISMO
O anarquismo é internacionalista. Não aceita fronteiras, nem nações. Da mesma forma que não aceita o Estado. A fraternidade de todos, na liberdade e na igualdade é um objetivo anarquista.
A não-discriminação é outra conseqüência da posição libertária. O anarquismo é contra qualquer tipo de discriminação. O respeito às opções individuais é uma conclusão lógica do respeito à liberdade de cada indivíduo...
Daí a defesa das uniões livres, da educação livre, do amor livre, da liberdade de expressão, da liberdade feminina que encontramos em obras anarquistas, como, por exemplo, as peças de Ibsen.

AUTOGESTÃO
O anarquismo é autogestionário. Como não aceita o poder de uma pessoa sobre outra, não aceita a existência de chefes, nem de patrões, nem de burocratas, mas de um trabalho livremente coordenado.
Na educação, tem como objetivo liberar as crianças de toda autoridade moral, religiosa ou política. Defende a escola laica, não religiosa. O respeito pela vontade física, moral e intelectual de cada criança.
Nas artes e na cultura, a negação das escolas e de um bom gosto oficial. A livre manifestação estética é uma posição anárquica amplamente difundida.

ANTIGA ASPIRAÇÃO
A aspiração libertária é antiga. Lúcifer é reputado como tendo sido o primeiro a se rebelar contra a autoridade e o governo divinos, trazendo luz aos homens. É comparado por alguns libertários a Prometeu. Por outros, a Hermes Trimegisto.
Aristipo (400 A.C.) dizia que o prazer só poderia ser gozado por quem nem governasse nem fosse governado. Zenão propunha uma sociedade sem governo, com as pessoas só respeitando a lei moral.
Lao Tse dizia no Tao Te King: “onde o governo for mais lento e inativo, o povo será mais próspero. Onde o governo intervém e é eficiente, o povo está descontente.”

ANARQUISTAS
“Com que deleite deve todo (...) amigo da humanidade olhar para (...) a dissolução do governo político, esse engenho estúpido que tem sido a única causa perene dos vícios da humanidade.” — William Godwin.
“Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.” — P. J. Proudhon.
“O Estado não pode desistir da idéia de que suas leis e ordens são sagradas. E o indivíduo é considerado então como um ímpio (...) que está contra o Estado.” — Max Stiner
“Em uma palavra, nós rejeitamos toda autoridade e toda influência privilegiada, licenciada, oficial e legal, mesmo vinda de sufrágio universal, convencidos de que ela só pode vir em vantagem para uma minoria de exploradores contra os interesses da imensa maioria dos sujeitos a ela. Este é o sentido em que nós somos realmente anarquistas.” — Bakunin.
“O primeiro golpe na igualdade foi dado pela propriedade. O primeiro golpe na liberdade foi dado pelas sociedades políticas ou governos. Os únicos apoios da propriedade e dos governos são as leis religiosas e civis.” — Spartacus Weishaupt
“Tornando-nos anarquistas, declaramos guerra contra esta onda de iniquidade que eles colocaram em nossos corações. Declaramos guerra contra seu modo de agir, contra seu modo de pensar. Nós não queremos ser mandados. E dizendo isso não declaramos, ao mesmo tempo, que não queremos mandar em ninguém?” — Kropotikin.
“Reconheço que o poder, seja qual for, é uma praga. É por isso que eu professo o anarquismo.” — Louise Michel
“Se há um fato inegável atestado milhares de vezes pela experiência é o efeito corruptor da autoridade sobre os que a detêm.” — Federação do Jura da I Internacional-1871

PRIMEIRO DE MAIO
Chicago, maio de 1886. A polícia intervém em manifestação pelas oito horas de trabalho. Anarquistas são presos. Quatro enforcados. Mas suas palavras ainda ressoam:
“Todo anarquista é um socialista mas todo socialista não é necessariamente anarquista.”
Adolph Fischer — discurso no tribunal após ter sido sentenciado ao enforcamento — 1886.
“Eu desprezo vocês. Desprezo sua ordem: suas leis, sua autoridade baseada na força. Enforquem-me por isso.”
Louis Lingg — 1886 — Discurso no tribunal.
“...o estado em que uma classe domina e vive às custas de outra classe e chama isto de ordem está condenado a morrer e dar lugar a uma sociedade livre, associação voluntária, fraternidade universal.”
August Spies — 1886 — Discurso no tribunal
“Governo é para escravos; homens livres se governam.”
Albert Parsons — 1886 — Discurso no tribunal

LIBERTÁRIOS NO BRASIL
A autoridade gera sua contestação. Também no Brasil. Os quilombos são exemplos citados pelos anarquistas das aspirações de liberdade, igualdade e rebeldia contra a autoridade no Brasil.
Assumindo o anarquismo, já em 28-2-1835 aparece o jornal “Anarquista Fluminense”. Em 1848, o “Grito Anarquial”. Livros e jornais anarquistas de outros países chegam ao Brasil.
Em 1890, é constituída no Paraná a Colônia Cecilia, comunidade libertária idealizada por Giovanni Rossi, em 300 alqueires cedidos por D. Pedro II. Foi liquidada (pela República!) em 1892.

COMUNIDADES
Uma comunidade formada em Guararema por Artur Camagnoli em 1888 durou até os anos 30. Além da comunidades e sindicatos, escolas e sociedades de ajuda mútua eram formadas pelos anarquistas.
No Rio Grande do Sul foi estabelecida uma comunidade por migantes russos ucranianos em Erechim (atual Getúlio Vargas!). Foi um pólo de difusão das idéias libertárias no sul do País.
Com o aumento da migração, as idéias anarquistas frutificaram, reforçadas principalmente por italianos, portugueses e espanhóis já familiarizados com a corrente libertária da Internacional, predominante em seus países.

ANARCO-SINDICALISMO
O sindicalismo brasileiro nasceu livre, anti-estatal, libertário. A corrente majoritária era a anarco-sindicalista ou sindicalista revolucionária, que introduziu questões como a total redução do Estado e da autogestão operária.
Em 1906 foi realizado o I Congresso Operário com predominância anarquista, sendo fundada a primeira central de trabalhadores no Brasil, a COB (Confederação Operária Brasileira).
De 1908 a 1915, a COB publica “A Voz do Trabalhador”, difundindo idéias libertárias, anunciando livros, encontros, espetáculos, implantação de escolas modernas, greves e outras atividades nacionais e internacionais.

REPRESSÃO
Os anarquistas e o movimento sindical revolucionário eram perseguidos. A “lei” Afonso Gordo previa a deportação de estrangeiros. Mesmo antes da “lei”, no início do século, haviam sido expulsos do Brasil Galileu Botti, diretor do jornal Gli Schiave Bianchi e assassinado Polinice Mattei.
O Brasil fazia parte do roteiro de visitas dos militantes anarquistas, como Errico Malatesta. Gigi Damiano, após ter sido expulso do Brasil, colaborou com ele no Umanità Nuova na Itália.
Anarquistas não eram só imigrantes. Anarquistas foram Fábio Luz, Martins Fontes, Rocha Pombo, Lima Barreto, Afonso Schimidt, Hélio Silva, José Oiticica, Maria Lacerda de Moura.

ANARQUISMO HOJE
No Mundo
Se nos movimentos da década de 60 ecoavam idéias libertárias, hoje elas estão presentes em Organizações Não Governamentais (ONGs), coletivos libertários, livros e comunidades. E, claro, na Internet. A propósito, você já reparou bem na letra do “Imagine” de John Lennon?
Temas centrais do anarquismo, como a negação de todo poder, de todas as leis e de qualquer Estado continuam presentes em manifestações sobre antigas questões sociais e outras, novas, como aborto, drogas, minorias e ecológicas.
No Brasil
Há um interesse crescente pelo anarquismo. Peças teatrais foram montadas, como Bella Ciao. Em 7 de abril de 1994, Suplemento Zap de “O Estado de São Paulo” publicou matéria sobre jovens anarquistas brasileiros. E, claro, eles podem ser encontrados facilmente na Internet.

SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO
Esta pequena apresentação das idéias libertárias foi, originalmente, desenvolvida para a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, como parte de um projeto de Exposições Itinerantes. Que eu saiba, foi feita uma exposição em São Caetano do Sul. Imagino que ainda esteja disponível na Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo para Escolas interessadas.
Tomar contato com as idéias libertárias foi muito importante para mim, lá no distante ano de 1968. A partir delas, não apenas me foi possível fazer uma crítica mais sólida do Sistema em que vivemos, como também do “socialismo real”, burocrático e autoritário. Desde então, o livre pensamento me conduziu ao Novo Humanismo, como uma das expressões mais atuais das idéias libertárias.
Todas as páginas dão uma visão muito introdutória das principais idéias libertárias. Se você já as conhece e quiser se aprofundar ou se atualizar, vá direto à Internet.
Esta publicação podia ser encontrada na web em www.sembandeiras.org em html e também em apresentação SMIL.
Endereço atualizado:www.geocities.com/Athens/Acropolis/3471/
Data de publicação como RocketEdition: 11 agosto de 1999 (o dia em que o mundo não acabou:) — A reprodução parcial ou total do conteúdo e sua distribuição não comercial é autorizada e, inclusive, incentivada. Comentários podem ser enviados para teotonio@teotonio.org

APRESENTAÇÃO MULTIMÍDIASMIL
Esta Pequena Introdução às Idéias Libertárias também está disponível em versão multimídia, em SMIL (Synchronized Multimedia Integration Language). O arquivo está zipado. Para ver a apresentação, CLIQUE AQUI PARA FAZER O DOWNLOAD DO ARQUIVO anarquismo.zip ( 1. 4 Mb ) e salvar em uma pasta em seu computador.
Dicas
1. Descompacte em uma pasta nova em seu disco (assim fica mais fácil apagar tudo, se você não gostar, ou para distribuição, se você gostar).2. Para ver, basta clicar no arquivo sanarquismo3.smi para lançar a apresentação no RealPlayer (G2 ou superior, RealOne). Ou abra o player, (localize o arquivo sanarquismo3.smi) e dê os oks necessários.3. Se você não tiver instalado ainda um Real Player, pode “baixá-lo” em http://www.real.com/ (é de graça).4. Boa leitura... e boa audição!
Fontes:
Tarizzo, Domenico — L’Anarchia — Storia dei Movimenti Libertari nel Mondo — 1976 — Arnoldo Mandatori Editore — ItáliaEhrlich, Howard — Ehrlich, Carol — DeLeon, David — Morris, Glenda — Reinventing Anarchy (What are anarchists thinking these days?) — 1979 — Routledge & Kegan Paul — LondresA Voz do Trabalhador (coleção fac-similar do jornal da Confederação Operária Brasileira — 1908-1915) — 1985 — Imprensa Oficial do Estado S.A. — IMESP — Secretaria de Estado da Cultura — Centro de Memória SindicalRodrigues, Edgar — Socialismo e Sindicalismo no Brasil — 1969 — Laemmert, RioBerman, Paul (ed.) — Quotations from the anarchists — 1972 — Praeger Publishers, N.YorkNosso Século (1900-1910), Abril Cultural, 1980 — SP

©2000,2006 — Teotonio Simões
Versão para eBookeBooksBrasil__________________agosto 1999
Proibido todo e qualquer uso comercial.Se você pagou por esse livroVOCÊ FOI ROUBADO!Você tem este e muitos outros títulosGRÁTISdireto na fonte:eBooksBrasil.org
Edição em eBookLibriseBooksBrasil.org__________________Março 2006

eBookLibris© 2006 eBooksBrasil.org
©1999, 2006 - Teotonio Simões. Reproduzido, com a devida autorização do Autor, de http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/anarquismo.html

sábado, 27 de dezembro de 2008

1 -CASA DA LAGARTIXA PRETA - Série Coletivos Libertários

SOBRE O ATIVISMO ABC E A CASA DA LAGARTIXA PRETA por Punk de Lua.
a fonte deste texto que inaugura a série coletivos libertários é a comunidade virtual no orkut deles.

"O que é o Ativismo ABC? Como participar?
O Ativismo ABC é um coletivo libertário surgido em 2001 em meio aos protestos globais anti-capitalistas.Reunindo várias pessoas com perspectivas políticas diferentes mas que tinham em comum a ação de rua anti-capitalista, o anti-partidarismo e uma ligação com o ABC, nosso coletivo começou fazendo protestos, panfletagens e intervenções urbanas.Tendo como princípios básicos liberdade, solidariedade, autogestão, valorização das diferenças e da ecologia, depois de alguns anos procuramos ir além do protesto e assim, colocar em prática aquilo em que acreditávamos.Foi assim que surgiu a Casa da Lagartixa Preta "Malagueña Salerosa", espaço gerido pelo coletivo. Lá tentamos por em prática um modo de vida mais solidário e menos mercantil, não só entre "seres humanos" mas também com a "natureza" (e para além dela). Tentamos fazer isso através do almoço grátis cooperativo aproveitando alimentos descartados pela feira, do baú de dádivas, da biblioteca de acesso livre, da horta agroecológica, da capitação de água da chuva, das oficina de "faça você mesmo", do conhecimento do bairro e do ambiente, de uma relação mais libertária entre adultos e crianças (incluindo o projeto transversal do Tesinho), da solidariedade com outras pessoas e coletivos etc. Hoje as tarefas do coletivo dentro da Casa da Lagartixa Preta consistem na zeladorida da casa aberta ao público, no cuidado da biblioteca e da horta, na proposta ou recepção de atividades dentro da casa, na manutenção da casa (o que inclui limpeza, arrumação, cuidado da horta, reformas, construção) e no pagamento do aluguel (feito através de festas, venda de lixo reciclável, pintura e venda de camisetas, venda de livros de editoras libertárias).
Fora da Casa também nos dividimos em atividades de divulgação pela internet e manutenção de listas de e-mail, na edição de nosso jornal aperiódico El Saleroso (antigo O Ativista), no contato e aliança com outros coletivos e movimentos. Atualmente temos atuado pouco nas ruas, mas vez por outra participamos de alguma ação e estamos abertos a isso.Já fizemos batucagens, encenações, colagens de cartezes e stickers, placas em estátuas, panfletagens na rua e dentro se transportes coletivos etc. Sem contar a exploração do nosso bairro e outros no conhecimento de plantas locais e bons lugares para coleta de alimentos e utensílios.
O coletivo Ativismo ABC é aberto a novos membros
Para participar é preciso concordar com nossos pincípios básicos, tanto filosoficamente quanto na prática.Portanto, é preciso também assumir alguma tarefa ou atividade dentro do coletivo.Antes disso é preciso criar alguma familiaridade com o coletivo, participando de algumas de nosssos encontros e reuniões.O coletivo tem feito reuniões aproximadamente quinzenais nas quais procuramos tomar todas as decisões que envolvem a maior parte possível de nossas atividades, buscando o consenso. O que não é fácil, pois demanda que uns às vezes amenizem suas posições e aceitem a diferença dos outros, e vice-versa.
Muitas pessoas já passaram pelo coletivo e às vezes deixaram de participar por falta de tempo ou algumas discordâncias.Entretanto, o coletivo está sempre aberto àqueles que desejam voltar a participar e mantém uma lista separada de contatos daqueles que já participaram e continuam nossos aliados, bem como daqueles aliados que sempre nos ajudam de alguma forma ou que freqüentam bastante a Casa da Lagartixa Preta, mesmo sem nunca ter participado formalmente do coletivo.Hoje várias pessoas participam ativamente do coletivo e algumas nem mesmo residem no ABC. As fronteiras geográficas não são barreiras.Alguma dúvida? Alguma sugestão? Quer participar do coletivo?Procure-nos na Casa da Lagartixa Preta "Malagueña Salerosa" ou entre em contato através do e-mail ativismoabc@riseup.net.

Nota:
Como diversas pessoas que conhecem a Casa da Lagartixa Preta "Malagueña Salerosa", que freqüentam a casa ou que conhecem o Ativismo ABC ainda têm dúvidas sobre quem mantém a Casa da Lagartixa, como fazemos isso e sobre o que é o coletivo, resolvi livremente criar este tópico aqui.É importante saber também que ninguém é obrigado a participar do coletivo para poder freqüentar a casa. Podem vir nos conhecer sem crise!Por outro lado, já que a casa é um espaço aberto ao público e temos um público fiel, é bom lembrar que muitos dos freqüentadores da casa não participam do coletivo. Não basta freqüentar a casa para ser membro do coletivo...

Ah, esqueci!
No meio da rua também temos feito campeonatos e jogos de bola, atividades circenses e brincadeiras infanto-adultas (como a "lata de sardinha", um esconde-esconde invertido).Outra coisa é que, para pagar o aluguel da casa, também recebemos doações dos próprios ativistas e de pessoas simpáticas à causa. "

comunidade virtual no orkut da Casa da Lagartixa Preta
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=610005

A ESCOLA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS- 3º MANIFESTO FURIOSO


O QUE PODERIA SER A ESCOLA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS?
O QUE PODE SER A ESCOLA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS?
O QUE SERÁ A ESCOLA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS?

Convido-os a seguir esta pista, aberta por Roberto Freire:
"Ensinar o que não foi perguntado, além de inútil, é uma forma de estupro cultural."

Ou esta outra, aberta por não sei quem, mas impressa na parede de um coletivo libertário no ABC paulista chamado CASA DA LAGARTIXA PRETA :
" Ensinar é impossível - Aprender é inevitável"

Por que se tenta ensinar? Aquele que diz ensinar geralmente se auto denomina professor. Professor profissional. Profissão por sobrevivência ou por lucro. Lucro pra vencer na vida na autoritária sociedade mercado. Por que se tenta aprender dos professores? Não seria por motivos idênticos? Currículo-Emprego-Lucro-Vencer na vida ? Isso motivaria a Escola dos Insurretos Furiosos Desgovernados? Penso que não. O que motivaria, então?
Ser uma Escola para se aprender tudo o que seja útil ao desenvolvimento individual (alinhamento das freqüências espiritual, social e físico) por meio do desenvolvimento da convivência libertária útil e prazeroza. Em vez das fórmulas dos centros de ensinos tradicionais em que os conhecimentos aprendidos se dispersam do coletivo, uma Escola cíclica em que os conhecimentos aprendidos sejam postos em prática pelo coletivo. Que não se motive em assistencialismos ou caridades típicos do ensino “bem intencionado”, porém vertical. Escola de aprendizado horizontal, não hierárquico, para caminhar-se e crescer-se juntos através da convivência libertária diária.
Por quê aprender, por exemplo, permacultura,(uma maneira de produção e habitação ecológica, ligada nos ciclos do ambiente, na vegetação nativa, formas de aproveitamento de água, energia etc... ) se não nos interessarmos em pôr em prática entre nós coletivamente por exemplo na construção física de nossa Aldeia? Pra aprender por aprender? Pra ter currículo? Pra arquivar o aprendizado no baú de nossos conhecimentos mortos?
Proponho uma Escola onde se aprenda por exemplo, teatro, porque se queira pôr em prática o desenvolvimento da linguagem e das motivações ideológicas que fazem existir o Teatro Fúria. Onde se aprenda rufos de alfaia porque se queira incluir o seu ruído revolucionário em nossas cenas, ou em nossas intervenções urbanas pelas ruas. Uma Escola cujas ações tenham como conseqüência a convivência por prazerosa necessidade de experimentarmos se é ou não possível criarmos a nossa micro-sociedade alternativa: A Aldeia dos Insurretos Furiosos Desgovernados.

Com esta fome, o Teatro Fúria inaugurou A ESCOLA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS com A ESCOLA DO TEATRO FÚRIA, no dia 6 de dezembro de 2008, no evento CIRCULÃÇÃO DE IDÉIAS - FÚRIA PRIMEIRA DÉCADA. A estréia prática dos laboratórios calharam entre os dias 1º a 19 de dezembro de 2008 e geraram a fome de um estudo para um espetáculo de vivência em cortejo pelas ruas. Motivados continuaremos e provavelmente apresentaremos no próximo Festival de Curitiba, em março de 2009 em carácter de espetáculo-processo ou ensaio aberto.
VIDA LONGA, MOTIVADA E TESUDA AO TEATRO FÚRIA E OS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS E A SUA ESCOLA DE ANARQUIA-AÇÃO !!!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A ESCOLA DO TEATRO FÚRIA - 2º MANIESTO FURIOSO


O objetivo da Escola é socializar os conhecimentos com a comunidade, abrindo a possibilidade para a renovação dos Insurretos Furiosos Desgovernados e aprimorar e desenvolver as linguagens teatrais utilizadas no Teatro Fúria.
A Escola do Teatro Fúria funciona em cooperação com o Pádua Nobre que nos cede espaço em sua galeria teatro das 14 às 18:30 horas de segunda a sexta.
os laboratórios da primeira temporada:

1) Laboratórios para sujeitos curiosos leigos - IniciaçãoSempre de forma muito lúdica e prazerosa, os experimentadores vão tomar contato com a mímica, a construção de personagens da comédia dell'arte, encenação de esquetes, o teatro do oprimido de Augusto Boal e a construção de cenas de modo auto-gestivo na Caixa-Mágica com suas Marionetas Humanas.
Carga horária de 25 horas.

2) Laboratórios Democráticos ou Duplipensamento Orwelliano - para artistas iniciados:Vamos experimentar o que desde pequenos nos ensinam sobre o que é democracia e como ela funciona, como a democracia é na realidade e como na realidade funciona, o que devemos fazer para a democracia ser mais eficiente no que diz respeito a promoção de justiça e o que deveria ser a democracia e como deveria ser. Após estes laboratórios o artista iniciado terá muito mais clareza da função ou disfunção do artista nas circunstâncias democráticas.
Carga horária de 25 horas.

3) Laboratórios da Dramaturgia da Árvore - Oficina de dramaturgia:Se experimentará passo a passo os métodos de construção de textos teatrais do Teatro Fúria neste últimos 10 anos, se analizará outras dramaturgias, maneiras de se explorar o subtexto e superobjetivo, experimentar-se-á a adaptação de outras obras para a linguagem de cena, e se mostrará as convenções de comunicação.
Carga horária de 25 horas.

Interessados mandar e-mail para: oficinafuria@hotmail.com

A ALDEIA DOS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS - o sonho 1º MANIFESTO FURIOSO


INSURRETOS FURIOSOS E DESGOVERNADOS SOMOS. PENSAMOS LOGO EXISTIMOS? NÃO É BEM ASSIM. AGIMOS-LOGO EXISTIMOS. OS INSURRETOS FURIOSOS DESGOVERNADOS EXISTEM NA ANARQUIA-AÇÃO. SOMOS AMBULANTES. MAS ESTAMOS EM BUSCA DE NOSSA ALDEIA. A ALDEIA DOS INSURRETOS FURIOSOS INFLAMÁVEIS DESGOVERNADOS. É O SONHO A SE REALIZAR. E COMO TODO SONHO É IMAGEM, A IMAGEM DA ALDEIA POR ENQUANTO É ESTA:

A ALDEIA DOS INSURRETOS FURIOSOS INFLAMÁVEIS DESGOVERNADOS(o sonho)

Cenário - Um galpão de tezentos metros quadrados com 3 portas rolos. Precisamente 1200 metros cúbicos, pois o ideal é que tenha pelo menos 4 metros de pé direito. Em outras palavras, 10 metros de fachada, 30 de profundidade e 4 de altura. Neste espaço físico, no sonho, se realiza a realidade da Aldeia dos Insurretos Furiosos Desgovernados

Atividades da Aldeia dos Insurretos Furiosos Desgovernados :

Capitalismo de sustento 1 - BARDOSDESGOVERNADOS ( o bar diário de arrecadação de manutenção do galpão. (Cinema de segunda com debates, Palestra de terça, Ensaio aberto de bandas de quarta, Ensaio aberto de cena e de quinta, Bar do teatro pós espetáculo do Fúria de sexta, sábado e domingo. Preço de uma cerveja por pessoa revertido em consumação nos dias ordinários(segunda até quinta) , ou pagamento de ingresso nos dias de espetáculo que serão de sexta a domingo)

-Eventos Eventuais – Palestras e oficinas de nacionais e internacionais de assuntos interessantes aos desgovernados furiosos, porém aberta à comunidade – (Faz-se o orçamento e cobra-se ingressos da comunidade com preços sem fins lucrativos para a realização) (Estes sábios/mestres serão incentivados a diminuir o custo de suas ações na aldeia acampando com os desgovernados e praticando preços simbólicos com uma placa na parede com dizeres do tipo “Os desgovernados furiosos reconhece..... como Insurreto,Desgovernado e Furioso Inflamável”

-Eventos sociais regulares auto-geridos:
Almoço marcado-Feira de livros e
Mercado/Escambo de pulgas de domingo (ruá! Enfim o domingo vai deixar de ser uma merda!)
Nas épocas de viagem, galeria de artes plásticas e performance.
Todos os dias aberta à comunidade a biblioteca particular dos insurretos(mas não pode levar os livros. Isso é um incentivo à leitura dentro da Aldeia)

- Bebidas no BardosDesgovernados: Cervejas, cachaças, absintos, café expresso, suco de polpa congelada e refrigerante natural (suco com água com gás), refrigerantes e águas.
- Alimentação no BardosDesgovernados – serviço terceirizado com lancherias, pizzarias, chinerias e outros deliveres com : Descontos especiais para o bardos e preferência na entrega. Os clientes tem : o horário limite para fazer seus pedidos. Haverá microonda para esquentar pedidos planejados para ser consumidos mais tarde ou: Se ultrapassarem o horário de deliver terão de consumir a comida ideológica do bar( comidas gostosas que não agridem os animais ex: Pinhão, pastel de palmito, macacheira)
Os pedidos deliveres terão acréscimos de 10% revertidos como pagamento para o disposto responsável.


Capitalismo de sustento 2 – Porcentagem da arrecadação nas bilheterias (10%)

Capitalismo de sustento 3 – Porcentagem da arrecadação nas oficinas da Escola dos Insurretos furiosos desgovernados (10%)

Capitalismo de sustento 4 – Tacha módica para habitação convidada ou aprovada na Aldeia ( O preço de duas cervejas ordinárias por dia – cerca de 5 réis diários )
Tacha de 7% (negociável para mais baixo nos casos de produtos caros) em todo capitalismo particular que se fizer na Aldeia.( feiras domingueiras ou outros eventos do tipo)

Capitalismo de sustento 6 – Tacha de 7% (negociável para mais baixo nos casos de produtos caros) da arrecadação nos produtos dos desgovernados vendidos na aldeia. (publicações, cds...expostos na Aldeia) (mesmo se for um desgovernado interno, pois a taxa diária de 5 réis é relativo às despesas diárias de permanência na aldeia.(água, eletricidade, solo) A tacha de 7% de produtos comercializados e 10 % de bilheterias e laboratórios é relativa à manutenção do espaço de trabalho.

Capitalismo de sustento 7 – Patrocínio/doação particular em conta corrente por parte dos amigos da Aldeia . (50 comerciantes livres como artesãos, tatuadores, perfuradores... que doem 5 réis mensais e tenham um quadro com seus cartões e dizeres do tipo “Eu sou sócio dos Desgovernados” ou algo que o valha) (25 empresas capitalistas de cultura como livrarias, editoras, jornais... que doem 25 réis mensais e tenham um quadro com suas logomarcas e dizeres do tipo: “Esta empresa é sócia dos Desgovernados” ou algo que o valha.)

Capitalismo de sustento 8– Esmola registrada em livro histórico de anônimos ou não, esmola voluntária de moedas no cofre lacrado com rótulo inscrito. “ Esmola registrada para despesas de manutenção da Aldeia dos Desgovernados Furiosos” ou algo que o valha

Capitalismo de sustento 9 – A venda das latinhas de refri e birra que se descartam diariamente no Bardos.

Capitalismo de sustento 10 – Porcentagem justa do valor na venda dos produtos materiais dos insurretos furiosos que a aldeia apóia e/ou investe.(Dramaturgia do Fúria, cordéis, discos compactos artesanais com imagens ou músicas)

Bueno. Agora que já estão apresentados os Insurretos Furiosos Desgovernados, a sua Aldeia, as circunstâncias de suas vidas, agora vamos ao sonho: Sonhemos juntos! Pois "...Sonho que se sonha junto é realidade"(Rauzito)

Ação!